Resposta às declarações de Zago: verdades e mentiras sobre a greve na USP

08 de agosto de 2014, 23:14

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Nas últimas semanas temos visto diversas declarações na imprensa, webmail usp e comunicados institucionais do reitor Marco Antonio Zago criticando a greve de professores, estudantes e, sobretudo, funcionários. O centro do discurso, repetido à exaustão, é sempre o mesmo: a culpa da crise na USP é dos professores e funcionários, que recebem salários muito elevados, e da intransigência do movimento grevista que se recusa a dialogar.
Mas, afinal, será que as afirmações de Zago são verdadeiras? Vejamos:

1 – “A intransigência na negociação parte das entidades representativas das categorias”

Desde o começo do ano, o movimento de funcionários, professores e estudantes tem buscado ferramentas de diálogo sobre suas demandas com a reitoria. Ainda no começo de Maio, o DCE e diversos centros acadêmicos formularam e protocolaram uma carta de reivindicações à reitoria, propondo uma reunião para a discussão das pautas de acesso, permanência, segurança, transparência orçamentária e etc. (ver aqui:  “https://www.dceusp.org.br/2014/05/carta-de-reivindicacoes-do-dce-e-centros-academicos-a-reitoria/”https://www.dceusp.org.br/2014/05/carta-de-reivindicacoes-do-dce-e-centros-academicos-a-reitoria/ ). A carta foi sumariamente ignorada pelo reitor. Mais tarde, quando da deflagração da greve, tudo que Zago fez durante as reuniões de “negociação” em que compareceu (a partir de Junho só mandou representantes) foi repetir sua proposta de 0% de reajuste salarial. Ao mesmo tempo, o reitor cancelou as reuniões agendadas do Conselho Universitário e não realizou mais nenhuma sessão durante a greve. Que negociação é esta em que só um lado impõe sua posição?
Não bastasse tudo isso, na última semana Zago comprovou sua intransigência ao cortar o ponto de funcionários e colocar a polícia militar no campus para reprimir o movimento grevista. As atitudes de Zago foram tão absurdas que diversas congregações de unidades como o IME, Biologia, FFLCH e outras manifestaram-se publicamente contra a postura do reitor.


2 – “Eu e o Conselho Universitário não sabíamos da verdadeira condição financeira da universidade até o começo desse ano”

É difícil acreditar nesse tipo de afirmação à luz do histórico do reitor. Zago foi pró-reitor, um dos cargos centrais na estrutura de poder da universidade, durante a gestão Rodas. Além disso, o atual presidente da Comissão de Orçamento e Patrimônio, professor Sigismundo Bialoskorski Neto, está nesta comissão desde 2010.  De duas uma: ou Zago diz a verdade e é culpado por ter se mantido calado frente o cúmulo da falta de trasparência de sequer um pró-reitor saber sobre o orçamento de uma universidade pública, ou Zago mente e tenta tirar o corpo fora de uma crise pela qual ele também é responsável.

3 – “A universidade não tem como conceder aumento salarial e reverter os cortes em bolsas, laboratórios, pesquisa e etc porque o orçamento está comprometido com a folha de pagamento”

É verdade que a USP enfrenta uma grave crise financeira. No entanto, a universidade ainda possui reservas multimilionárias, que podem e devem ser investidas no aprimoramento do ensino, pesquisa e extensão. A médio prazo, a solução para enfrentar a crise é exigir que o governo estadual invista efetivamente na universidade pública, já que hoje em dia ele sequer destina o patamar mínimo definido por lei de 9,57% do ICMS, tendo sonegado entre 2008 e 2013 cerca de 2 bilhões de reais às universidades estaduais paulistas.

4 – “O corte no ponto dos salários dos grevistas é legal”

Jorge Luiz Souto Maior, professor da Faculdade de Direito da USP Juiz Titular na 3ª Vara do Trabalho de Jundiaí, dedicou um artigo inteiro para explicitar as ilegalidades cometidas contra os grevistas USP (  “http://blogdaboitempo.com.br/2014/06/24/ilegalidades-e-intransigencia-da-reitoria-tensionam-o-conflito-na-usp/”http://blogdaboitempo.com.br/2014/06/24/ilegalidades-e-intransigencia-da-reitoria-tensionam-o-conflito-na-usp/ ). Cortar ponto e coagir trabalhadores com repressão policial a voltar ao trabalho, especialmente antes do julgamento da greve pelo TRT, é uma clara afronta ao exercício do direito legítimo de greve.

5 – “A adesão da greve é minoritária(…) Estima-se que 10% dos servidores técnico-administrativos estejam em greve”

De todos os absurdos proferidos por Zago, este é um dos mais indignantes. Trata-se de uma tentativa desonesta de jogar a população contra o movimento grevista, tentando apresentá-lo como fruto das ações de uma minoria intransigente. Se o movimento é de fato tão marginal, então a USP deveria estar em um clima de normalidade.  Ora, então como explicar as diversas unidades paradas (inclusive algumas que não entravam em greve há muitos anos, como o HU, que fez sua última greve em 1995), as assembleias lotadas das três categorias aprovando greve por consenso e a sobrevivência e fortalecimento do movimento durante as férias letivas?

Ao que tudo indica, para Zago diálogo significa apenas polícia e informes semanais do ponto do vista da reitoria sobre os acontecimentos. Não é isto que desejamos; queremos negociação efetiva! Participe do calendário do movimento e vamos construir uma universidade verdadeiramente pública, gratuita e de qualidade!

13/08, quarta-feira – Ato público em defesa da universidade pública. Greve não é caso de polícia!
Com Vladmir Safatle, Sindicato dos Metroviários, ADUSP, SINTUSP e outros. Às 18:00, local a confirmar.

14/08, quinta-feira – Ato unificado de greve da USP, UNESP e UNICAMP
Concentração às 12:00 na Faculdade de Educação da USP. Saída às 13:00 em direção ao Palácio dos Bandeirantes

 

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