Opinião do DCE sobre os próximos passos do movimento estudantil

08 de novembro de 2013, 19:39

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 Na última quarta-feira (06), tivemos uma assembleia geral decisiva. Nela, discutimos a continuidade ou não da greve e da ocupação da reitoria, bem como a assinatura da proposta de termo de acordo para isso. Por decisão da maioria (757 votos a 562), a opção tomada foi de negar o termo de acordo e seguir com a ocupação e a greve.

O DCE da USP, como entidade que representa os estudantes, reconhece a legitimidade dessa deliberação e se dispõe, desde já, a levar adiante seus resultados. Ainda assim, queremos deixar claras nossas posições a respeito das decisões tomadas e dos rumos da mobilização. Desde o dia 1º de outubro, estamos na linha de frente de uma mobilização histórica, que tem ganho legitimidade na opinião pública dentro e fora da USP. Com nossa luta, obrigamos a reitoria a muitos retrocessos antes inimagináveis, seja nas derrotas iniciais que sofreu Rodas na Justiça, seja no fato de o reitor ter sido obrigado a negociar com os estudantes, o que nunca foi de seu feitio.

O auge de nossa força se deu no dia 31/10, quando, após reunião de negociação, onde foram levadas todas as pautas estudantis tiradas em assembléias, a reitoria foi obrigada a recuar e ceder em reivindicações históricas (entenda-as aqui: https://www.dceusp.org.br/2013/11/entenda-o-termo-de-acordo-da-reitoria-e-a-posicao-do-dce/).

Para o DCE, as conquistas que estavam em jogo não eram menores. Não eram “migalhas”. Há tempos uma greve somente de estudantes teve tanta força para conquistar. Na USP, ainda, a última vez que uma mobilização teve vitórias foi em 2007 (em uma greve das três categorias). As conquistas alteram a vida de milhares de estudantes e demonstram que fazer greve vale a pena.

É evidente que a proposta de termo de acordo não atendia a todas nossas reivindicações. Tem razão quem diz que muitos pontos eram escritos em linguagem confusa ou insuficiente. É não somente natural, mas positivo, que os estudantes tenham desconfiança com um documento que é proposto pela reitoria da universidade — Rodas nunca teve palavra, por que teria agora? Ao mesmo tempo, é inegável que, agora, infelizmente, estamos mais distantes do que próximos das conquistas que já havíamos alcançado.

Acreditamos que a decisão da justiça em autorizar a reintegração de posse, aceitando o mandado de segurança de Rodas, alterou completamente as condições de negociação do nosso movimento. Estava claro, desde então, que a decisão em rejeitar o termo de acordo colocava em risco a possibilidade de seguirmos com algum processo de negociação. Na assembleia estávamos votando, portanto, entre um cenário que apontava para reintegração de posse, repressão, fim da negociação e nenhuma conquista pelos estudantes ou um cenário onde anulávamos a possibilidade de repressão policial e consolidávamos as conquistas.

Na assembleia, a postura de alguns estudantes, ao ampliarem a confusão, tacharem de “migalha” ou mesmo de “traição” as conquistas, inclusive com a utilização de métodos reprováveis como vaias e constrangimentos, não contribuiu para o avanço de nossa luta. Além disso, ignorou o atual estágio de nossa mobilização, os riscos e oportunidades que temos.

Por isso, consideramos que a decisão tomada na assembleia de 06/11 não foi a mais correta. Para o DCE, a principal tarefa do movimento estudantil, no momento, seria consolidar nossas vitórias, assinando o termo de acordo e encerrando a greve e a ocupação para que lutássemos com ainda mais força no próximo período. Para nós, greve e ocupação são ferramentas de mobilização, que foram fundamentais para massificar nossa luta desde o dia 1º, mas que não podem ser um fim em si mesmo. Devem, como ferramenta, ser reavaliada, não só a partir da opinião dos participantes das assembléias gerais, mas também do apoio passivo e ativo do conjunto da universidade.

Um erro tático em uma greve ou ocupação pode colocar o movimento estudantil na defensiva durante um longo período. Foi o que vimos de 2011 pra cá. Em 2013, estamos aprendendo a fazer uma mobilização capaz de aglutinar amplas parcelas dos estudantes. A luta por democracia na USP — em especial pelas eleições diretas e pela estatuinte — consegue dialogar com toda sociedade e a comunidade universitária. Com isso, vimos construindo a greve mais forte dos últimos anos na USP, parando 3 campi e quase 50 cursos, levando milhares para as ruas e multiplicando os debates e mobilizações.

Uma continuidade positiva para nosso movimento, neste momento, depende disso. É hora de reconstruirmos uma correlação de forças mais favorável. Somente ao lado da ampla maioria dos estudantes podemos ser radicais e vitoriosos. Também por isso considerávamos importante a consolidação de nossas conquistas. Neste momento, existe a possibilidade iminente de reintegração de posse do prédio da reitoria da USP. Consideramos inadmissível o uso da força policial dentro do espaço universitário e, sobretudo, diante de um movimento político, legítimo e democrático, que tem em andamento canais de diálogo e negociação administrativos na universidade.

É um absurdo que Rodas diga negociar, mas, ao mesmo tempo, leve adiante suas ofensivas judiciais e policialescas. A grande culpada pela situação é a reitoria da USP, que, em quatro anos, construiu uma cultura de autoritarismo e truculência na universidade, que neste ano tentou até o fim não negociar com os estudantes e que, mesmo quando negociou, manteve-se intransigente em muitos pontos, como a garantia de não punição e, sobretudo, a retirada do pedido de reintegração de posse pela Justiça.

Um enorme escândalo, além de tudo, foi a atitude golpista tomada pela própria comissão de negociação da reitoria, que em reunião em 31/10, comprometeu-se com uma “estatuinte livre, autônoma e democrática” na USP, mas, em 06/11, voltou atrás.

Nas mobilizações e lutas que fazemos, nosso aprendizado é constante. O tamanho da vitória dos estudantes, a capacidade de levar adiante nossos métodos de luta, como a greve e a ocupação, dependem não somente de nossa vontade, mas da correlação de forças e da capacidade que temos de dialogar com os estudantes. Mesmo as deliberações que tomamos em assembleia só se efetivam com a participação e engajamento de todos.

Consideramos fundamental que o movimento da USP siga adiante, busque se fortalecer ao máximo e tire as conclusões da própria luta e das opções que toma. Por isso, estaremos atentos e não permitiremos o uso da violência policial na USP. Seguiremos lado a lado com todos os estudantes em busca de que as negociações sejam retomadas e que nossas conquistas voltem a ser possíveis. Sobretudo, seguiremos adiante, neste ano e no ano que vem, na luta por democratizar a universidade, com eleições diretas para reitor e espaço para que todos tenham voz na USP.

 

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