Nota sobre o pronunciamento de Rodas sobre eleições para reitor
10 de julho de 2013, 20:03
Hoje, a reitoria surpreendeu a universidade em declaração a respeito das eleições para reitor e diretores de unidade na USP. Em carta assinada diretamente por João Grandino Rodas (LINK: http://democracia.usp.br/wp-content/uploads/oficio.pdf), o atual reitor afirma a intenção de implantar um “processo eleitoral amplo, transparente e participativo”, criando “oportunidades para mudanças” no atual sistema de eleições. Afirma também a intenção de propiciar “aos cento e vinte mil uspianos” a “participação efetiva na escolha de seus dirigentes”.
Em outras palavras, Rodas assume a necessidade de democratizar as eleições para reitor na USP. E o motivo para isso é claro: atualmente, os reitores da USP — inclusive Rodas — são eleitos de maneira escandalosamente antidemocrática. Pode parecer um contrassenso, mas na principal Universidade do país, em que se esperaria o predomínio da democracia e da participação crítica, menos de 5% da comunidade universitária pode votar para reitor. Como se não bastasse, ao final dessas votações, é ainda o Governador do Estado que tem a prerrogativa de escolher o nome de sua predileção, a partir de uma lista tríplice. Ou seja, diferente de nosso próprio país e de inúmeras de suas universidades, não há eleições diretas na USP.
Diante desse absurdo, não é de hoje que a reitoria da USP é pressionada para democratizar as eleições para reitor. Essa reivindicação vem de décadas por parte do conjunto do movimento de docentes, funcionários e estudantes. No movimento estudantil, em especial, a luta por democracia na universidade e por eleições diretas para reitor tem sido o eixo principal das lutas do último período. O XI Congresso de Estudantes, realizado em 2012, por exemplo, teve em seu centro essa discussão. Da mesma maneira, as atividades da Calourada Unificada de 2013 e diversas outras.
Nesse momento, portanto, nos enchemos de confiança. Se Rodas quer democratizar, muito bem. A proposta histórica de professores, funcionários e de nós, estudantes, é clara e simples: ELEIÇÕES DIRETAS JÁ. Com participação de todas/os e peso paritário. Como deve acontecer em qualquer espaço democrático.
Resta saber se de fato será essa a disposição da reitoria. Não temos nenhuma confiança em João Grandino Rodas. Primeiramente, ele próprio só chegou ao seu cargo por conta de nomeação direta do então governador do estado, José Serra. Além disso, ao longo de toda sua gestão, a marca de Rodas foi o autoritarismo. Jamais nosso reitor de fato atendeu às demandas democráticas da universidade. Pelo contrário, foi ele quem protagonizou algumas das piores cenas da história da USP, como a entrada da Tropa de Choque da Polícia Militar, em 2011, ou a perseguição a professores, funcionários e estudantes por conta de sua atuação política. As práticas de Rodas sempre o aproximaram de um “xerifão” da USP, que pretende manter a universidade o mais elitizada e distante da sociedade possível. Neste ano, a completa indisposição da reitoria em discutir um verdadeiro projeto de cotas para a universidade demonstra isso. Agora, mesmo em suas atuais declarações, há indícios para imaginar que o reitor não abandonou sua maneira de pensar. Em sua carta, por exemplo, Rodas sugere o fim da autonomia de estudantes e funcionários na eleição de representantes para os órgãos centrais da USP, o que é um absurdo, dado que tal autonomia foi conquistada historicamente e é um direito. E, de maneira quase anedótica, ao fim da carta, reporta-se à data do 09 de julho de maneira honrosa, chamando-a de “saga de 1932” e enaltecendo os “paulistas”, como demonstração do viés de seu pensamento, exemplo maior do caráter elitista que, desde sempre, como um fantasma, persegue a universidade.
É preciso ter claro: as declarações da reitoria no dia de hoje são resultado da própria luta e pressão de todos que lutam por democracia na universidade. Refletem, também, o receio dos poderosos diante da atual conjuntura de luta e ofensiva social por que passamos em nosso país. O exemplo da vitória contra o aumento das tarifas em São Paulo e outras grandes capitais, e da explosão de indignação e luta democrática por todo país, já amedrontam o reitor da USP e seus aliados.
Para o DCE-Livre da USP, o segundo semestre de 2013 será de muita luta. Se de fato houver democratização da universidade, será um conquista nossa. Se, por outro lado, Rodas estiver apenas blefando, buscando as “mudanças” necessárias para nada mudar, e lidando apenas com sua própria concepção de democracia, seguiremos firmes. Reafirmamos nossa disposição em organizar o conjunto dos estudantes e, junto a eles, obter as conquistas que necessitamos. A isso estamos e estaremos integralmente dedicados desde o primeiro momento da retomada das aulas em 2013.
Que ninguém duvide da força da juventude que, em São Paulo, derrotou o aumento das tarifas.
Na USP, exigimos: eleições diretas já!
DCE-Livre da USP – Gestão “Não vou me adaptar!” – 10 de julho de 2013.