Machismo e agressão no movimento estudantil da USP: nunca mais!
13 de abril de 2013, 14:05
Nota do DCE-Livre da USP diante das agressões machistas e físicas protagonizadas pelo PCO
Nesta quinta, o movimento estudantil, da USP sofreu um ataque inaceitável. Em plena assembleia geral de estudantes, no momento em que a Frente Feminista da USP denunciava um caso de machismo envolvendo um militante do PCO, este partido rompeu com os parâmetros democráticos de atuação política e agrediu fisicamente uma mulher diretora do DCE-Livre da USP. Com a intenção clara de impedir o debate democrático e o posicionamento da Frente Feminista sobre o tema, os militantes do PCO atacaram a mesa, quebraram o som que garantia as falas, provocaram ativistas de diversos coletivos e implodiram a assembleia.
Para a gestão Não vou me adaptar!, do DCE-Livre da USP, isso é inadmissível. Estamos em completo desacordo com esse método, bem como com o machismo que, de fundo, sustenta o profundo ataque sofrido pelo movimento estudantil na assembleia.
Infelizmente, esse histórico de perseguição e de agressão machista não começou na última quinta-feira. Após a 1ª assembleia do ano, em 16/03, André Sarmento, militante do PCO, perseguiu e atacou sistematicamente uma das diretoras do DCE da USP que fez parte da mesa que conduziu o espaço. Dizendo insultos machistas como “da próxima vez, coloca um homem na mesa que garante melhor” e “não é porque você é mulher que eu não posso partir pra cima”, Sarmento procurou inibir e amedrontar o ativismo feminino do movimento estudantil da USP, utilizando-se de uma das ideologias mais reacionárias de nossa sociedade, o machismo, para atacar uma militante do DCE. Ao fazê-lo, atacou todo o movimento estudantil da USP.
Não é a primeira vez que André Sarmento e seu partido protagonizam atos lamentáveis como este. Em 2011, um ativista do movimento estudantil da USP e do movimento LGBT foi atacado por militantes do PCO, que em assembleia o chamaram de “arrombado”. Também desta vez, os militantes deste partido buscaram provocar os ativistas e estudantes, numa clara tentativa de implodir os fóruns legítimos do movimento estudantil. Neste mesmo ano, mulheres foram chamadas de “pelegas vagabundas” por membros da chapa protagonizada pelo PCO e outros partidos nas eleições do DCE da USP. Quando aquelas foram denunciar tal ataque nos fóruns do movimento estudantil, o PCO e seus aliados não pestanejaram em sair em defesa do agressor.
Para além disso, após a resposta do Coletivo Marias Baderna, que reúne ativistas do movimento feminista no curso de Letras da USP, o PCO lançou uma nota e diversas declarações na internet em que diziam que as mulheres militantes de coletivos e partidos políticos que fazem parte da atual gestão do DCE buscam “ganhar militantes através da conquista sexual” (por meio da “tática dois”), que se prostituem e que, na verdade, não passam de “pelegas” cujo grande objetivo seria perseguir os militantes daquele partido. Deste modo, André e seus companheiros de partido utilizam-se de ataques machistas e de mentiras para desestabilizar e atacar militantes de outras correntes políticas.
Como resposta a essa situação, mulheres da atual gestão do DCE e da Frente Feminista da USP, que é composta por diversos coletivos e estudantes mulheres da USP, inclusive da oposição, escreveram uma nota, que foi lida em nossa assembleia estudantil. Após a leitura da nota, os militantes do PCO avançaram sobre a mesa. O DCE procurou manter a assembleia, pela importância que este fórum tem para a organização do movimento estudantil, mas foi impedido pelo sistemático ataque do PCO. A mesa propôs consultar a plenária sobre o direito de resposta, tentando encaminhar uma votação. Porém, os militantes do PCO, amplamente rechaçados, continuaram gritando e tumultuando a assembleia, impedindo inclusive que a maioria dos estudantes pudesse se posicionar sobre a legitimidade ou não de André Sarmento ter direito a fala naquele momento. Após uma companheira diretora do DCE ser agredida fisicamente e um militante do PCO, Rafael Dantas, ter jogado a caixa de som no chão, não havia mais condições de continuar a assembleia.
Queremos deixar claro. Quem impediu a continuidade da assembleia geral dos estudantes foi o PCO, seus métodos e, sobretudo, o machismo. Agressões físicas e morais, machismo e calúnia não são admissíveis em nosso movimento. Este tipo de atitude é totalmente incompatível com a construção democrática na política. Ao impedir, através da força física, que a assembleia continuasse, a militância do PCO atacou toda a tradição de luta e organização do movimento estudantil uspiano.
Por isso, o DCE-Livre da USP Alexandre Vannucchi Leme se posiciona claramente: não permitiremos que situações como essas se repitam. Não permitiremos que mulheres voltem a ser desrespeitadas na condução de uma assembleia somente pelo fato de serem mulheres. Não permitiremos a perseguição, as ameaças e as agressões verbais. Não permitiremos, sobretudo, a agressão física, situação limite a que propositalmente se chegou na última assembleia. Para o DCE-Livre da USP, os estudantes que reproduzem tais práticas, marcadamente os ativistas do PCO citados nessa nota, não devem mais encontrar espaço no movimento estudantil da USP. Nosso movimento é construído cotidianamente com base no respeito, no diálogo e na democracia. Nosso norte e principal objetivo são a transformação da universidade e sua democratização. Nesse processo, não abrimos mão do papel protagonista a ser cumprido pelas mulheres, ainda que a sociedade em que vivemos não estimule isso. Iremos até as últimas consequências, com todas as medidas cabíveis e necessárias, para que o que se passou na assembleia geral de 11/04 não se repita.
No próximo período, o DCE-Livre da USP realizará uma ampla campanha em toda universidade contra o machismo e a opressão no movimento estudantil. Por todas as vias possíveis: pela internet, nos cursos, salas de aula, centros acadêmicos e ruas. Devemos pintar a USP de roxo e jamais permitir que situações de agressão e opressão voltem a ter espaço no movimento estudantil uspiano. Fazemos um chamado a todas as entidades e coletivos do movimento estudantil de dentro e fora da USP, bem como o conjunto do movimento social brasileiro, a rechaçar não só o machismo, mas o método da agressão física e moral dentro dos espaços da política.
Machismo e agressão no movimento estudantil da USP: nunca mais!