Nota da Frente Feminista da USP sobre a segurança nos campi
12 de novembro de 2011, 16:33
Nós, mulheres estudantes e trabalhadoras, sabemos as dificuldades e limitações a que somos subjugadas pela atual conformação do espaço urbano de forma geral, e do projeto urbanístico dos campi da USP de forma específica. Avaliamos, assim, a importância de discutir outro plano de segurança para a Universidade de São Paulo.
Grandes áreas vazias não são pensadas para pessoas sem automóveis e/ou que usam o espaço fora do horário comercial, pois, dificultam a mobilidade e aumentam a insegurança, principalmente se essas pessoas são mulheres. Pensar em um espaço inclusivo e seguro é pensar em um projeto de segurança que não abra brechas para violência e/ou intimidação das mulheres. O convênio da USP com a secretaria de segurança pública, que coloca polícia militar nos campi, não é um projeto de segurança e, sim de intimidação e repressão.
As instituições militares, tais como o exército ou a Polícia Militar, que hoje ocupa o campus da USP Butantã, são instituições extremamente patriarcais, por sua extrema hierarquização do poder, culto ao chefe, violência física, dominação e ausência de espírito crítico. As instituições militares refletem uma estrutura patriarcal da sociedade na medida em que reproduzem valores ditos “masculinos”, como a agressividade e a violência.
Atuando junto ao Estado burguês e às elites econômicas, essa instituições corroboram para a manutenção das relações sociais que hoje imperam. Aumentando a repressão com o reforço das forças policiais, políticas de intolerância, extrema criminalização da pobreza, dos movimentos sociais, e das mulheres.
Foi a polícia, que na última terça-feira, 8 de novembro, chegou ao campus do Butantã com mais de 400 soldados da tropa de choque, cavalaria e helicópteros para desocupar a reitoria. Quebrando cadeiras e arrombando portas, entrou na reitoria a instituição que mantém a ordem. Lá, levaram todas as mulheres presentes para uma sala fechada, deixando-as totalmente intimidadas pelos policiais munidos de cassetetes. Uma das mulheres foi levada sozinha para outra sala, a estudante gritou por meia hora, gritos que não remetem a segurança e sim a tortura. Uma organização machista, violenta e que abusa do seu poder, não garante tranquilidade, nem mesmo os direito a liberdade de pensamento, organização, ação e, muito menos a segurança que queremos.
Pensar a segurança na USP não passa, portanto, pela adoção de medidas que existem somente para a manutenção de um determinado status quo, mas por pensar seus campi enquanto espaço público de aprendizado e também de convivência, ou seja, acessível a população que também pode movimentá-lo. Transformar o modelo urbanístico da USP, projetado na época da ditadura militar, em um espaço que permita a inclusão da população é, também, a superação desse modelo unifuncional.
Abrir a Universidade concretamente à sociedade não é apenas permitir a entrada de pedestres sem carteirinha a noite e aos fins de semana. É preciso rediscutir e construir atividades e espaços de convivência juntamente à acessibilidade aos campi. No caso específico do Butantã, essa pauta engloba a reivindicação por um maior número de ônibus, bem como de circulares, e que estes tenham seus horários à noite e aos finais de semana ampliados.
Manutenções paisagísticas no que diz respeito a poda de árvores e folhagens bem como aumento da iluminação são medidas que colaboram com a área de visão de todas e todos que passam pelo espaço, diminuindo as chances de pessoas serem surpreendidas por alguém que apareça subitamente.
A guarda universitária que há na USP hoje tem treinamento essencialmente focado na defesa patrimonial. É preciso que seja aberto um concurso público que dê condições objetivas de que as(os) funcionárias(os) tenham outro treinamento, que seja baseado nos direitos humanos e englobe a prevenção dos problemas de segurança e com um efetivo feminino que tenha treinamento para tratar de casos de violência à mulher, além de ser gerido por uma comissão paritária de estudantes, funcionários e professores, para assim a guarda universitária servir aos interesses da comunidade.
Essas ideias não são suficientes para resolver o problema de segurança nos campi da USP, mas são o mínimo urgente e necessário para que a população em geral, e principalmente, as mulheres pobres e trabalhadoras, que dependem do transporte público e trabalham/estudam no período noturno possam ser menos oprimidas e vulneráveis a abordagens, assédios, assaltos, estupros e mortes todos os dias.