Estudantes pela continuidade da Graduação em Obstetrícia na USP
22 de março de 2011, 08:00
No final da última semana, fomos surpreendidos por um relatório de professores sobre um “estudo das Potencialidades, Revisão e Remanejamento de Vagas nos Cursos de Graduação da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP” (PDF). Tal avaliação foi feita pela análise de dados quantitativos (relação candidatos/vaga, taxa de evasão, taxa de conclusão entre outros) e recomenda, no mínimo, a redução de 10 vagas de cada turma dos cursos oferecidos pela EACH. A pior situação encontra-se na avaliação do curso de Obstetrícia: o relatório recomenda a extinção do curso, transferência d@s atuais alun@s para o curso de Enfermagem (“O GT considera que a melhor solução, tanto para a EACH, como para preservar os interesses dos alunos, seria a transferência do curso (vagas) para a Escola de Enfermagem, permanecendo na EACH o ensino da enfermagem obstétrica, que seria ministrado pelos docentes da EACH e oferecido, igualmente, a todos os alunos da enfermagem”, pág. 20).
Esse relatório reflete uma tendência iniciada com a divulgação das diretrizes para criação de novos cursos da USP, o qual prevê “discussão sobre eventual extinção de cursos de baixa demanda, evidenciada pela relação candidato/vaga na FUVEST, e de baixo impacto social, considerando-se sua possível extinção, ou reestruturação” (pág. 2).
Já no dia 18 de março houve uma intensa mobilização d@s estudantes da EACH, que paralisaram a unidade no período da tarde (vídeo abaixo). Nesta semana, houve um ato ontem às 16h na EACH e haverá outro hoje de manhã, às 9h na reitoria da USP (campus Butantã).
Há ainda intensa mobilização na internet, com apoio de diversas pessoas do mundo inteiro. Veja a página no Facebook e assine o abaixo-assinado!
Pedido de apoio à Graduação de Obstetrícia na Universidade de São Paulo (PDF)
A saúde da mulher encontra no Brasil números alarmantes. A OMS recomenda que o número de cirurgias cesáreas não ultrapasse 15%, porém, na rede pública brasileira este número alcança a marca de 48% e na rede particular de 70% a 90%. Apesar do incentivo do Ministério da Saúde do Brasil pelo parto normal e pela humanização dos mesmos, as taxas permanecem altas. Sendo assim, em resposta a este quadro, o curso de Obstetrícia foi reaberto na Universidade de São Paulo em 2005, 34 anos depois de sua extinção na mesma universidade.
Ressurgiu determinado a formar profissionais da saúde, capacitados para prestar uma assistência humanizada à população brasileira no que se refere assistência pré-natal, parto e pós parto, compreendendo a saúde da mulher, família e comunidade.
Acreditamos que uma atenção humanizada não é uma especificidade da obstetrícia, certamente profissionais médicos e enfermeiros podem e devem humanizar seu olhar e suas práticas. Contudo, a formação específica de Obstetrícia capacita os profissionais para praticar uma atenção individualizada à mulher e à família, compreendendo-a em seus processos de gestação, parto e amamentação como fisiológico, mas também e igualmente importantes, como processos emocionais, sociais, culturais, espirituais e como sementes para um mundo melhor.
No entanto, apesar de se propor a colaborar com a melhora da atenção a saúde da mulher, desde a sua reabertura, o curso enfrenta muitas dificuldades, dentre elas o impasse em relação a regularização da profissão de obstetriz. No diálogo com as instituições que poderiam regulamentar os profissionais formados nesse curso, viu-se a necessidade de ampliar a formação dos mesmos, o que gerou uma reformulação em sua grade curricular, que a partir de 2011 passa a ser realizado em 4 anos e meio em período integral. Assim, o curso foi tratando de dar respostas, aprender e recordar sempre qual a sua função e a importância que representa na possibilidade de contribuir na melhoria da atenção a saúde no Brasil.
A esses impasses soma-se o fato do curso de Obstetrícia estar situado em um campus recente da USP. Sendo um campus novo, os cursos situados nele têm pouca divulgação e consequentemente menor procura do que cursos tradicionais. Devido a isso, hoje a Obstetrícia enfrenta um problema ainda mais grave do que a regularização de seus profissionais: corre o risco de ter seu vestibular suspenso, o que abre a possibilidade do fechamento do mesmo. Além disso, há também a possibilidade de redução das vagas para acesso ao curso (hoje 60 vagas são disponibilizadas por ano). Entendemos, no entanto, que a realidade da assistência obstétrica no Brasil justifica a manutenção das 60 vagas atuais, permitindo a formação de um maior número de profissionais capacitados na assistência humanizada à saúde da mulher.
Como consequência indireta e não menos importante, a suspensão do vestibular e possível fechamento do curso diminui as chances das pessoas que vivem na Zona Leste de São Paulo, região caracterizada por população de menor poder aquisitivo e, dado o quadro das universidades do Brasil, com menor chances de cursar uma faculdade pública, em geral com maior prestígio no país.
Enfim, estamos falando da possível extinção da profissão Obstetriz e de sua capacidade de mudar a realidade obstétrica brasileira. Hoje os alunos formados podem trabalhar mediante uma ação judicial, porém enfrentam uma oposição das instiuições reguladoras que dificulta o ingresso destes profissionais no mercado de trabalho.
Pedimos, então, o seu apoio para evitar que a Obstetrícia tenha seu vestibular suspenso e sua formação ameaçada. Para isso você deve assinar o texto abaixo, podendo acrescentar comentários pessoais, e depois enviar para o e-mail ajudeaobstetricia@gmail.com.
Diante da realidade obstétrica brasileira, com altas taxas de cesárea e morbimortalidade materna, ao contrário das recomendações da OMS, apoio a graduação de Obstetrícia da Universidade de São Paulo, sendo contrário à suspensão de seu vestibular. Da mesma maneira apoio a profissão Obstetriz e sua inserção no mercado de trabalho, uma vez que acredito que este profissional pode alavancar uma assistência humanizada na saúde da mulher, melhorando e ressignificando os processos de gestação, parto e pós-parto.
Recomendamos também a leitura do texto Obstetrícia da USP, onde ficamos nisso?, que foi escrito por estudantes de Letras da USP no blog Quem mandou nascer mulher?
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